.:: Relendo os clássicos brasileiros: os enfrentamentos no tempo e permanências

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Um feliz Natal e um 2004 repleto de realizações e partilha. Com carinho, Mara
22.6.04
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PENSANDO BEM

de Luís Fernando Veríssimo

"Pensando bem, é difícil acreditar que estejamos vivos até hoje! Quando éramos pequenos, viajávamos de carro, sem cinto de segurança, sem ABS e sem air-bag!
Os vidros de remédio ou as garrafas de refrigerantes não tinham nenhum tipo de tampinha especial... Nem data de validade... E tinham também aquelas bolinhas de gude... Que vinham embaladas sem instrução de uso. A gente bebia água da chuva, da torneira e nem conhecia água engarrafada! Que horror!
A gente andava de bicicleta sem usar nenhum tipo de proteção... E passávamos nossas tardes construindo nossas pipas ou nossos carrinhos de rolimã.. A gente se jogava nas ladeiras e esquecia que não tinha freios até que não déssemos de cara com a calçada ou com uma árvore... E depois de muitos acidentes de percurso, aprendíamos a resolver o problema... SOZINHOS!
Nas férias, saíamos de casa de manhã e brincávamos o dia todo; nossos pais às vezes não sabiam exatamente onde estávamos, mas sabiam que não estávamos em perigo.
Não existiam os celulares! Incrível! A gente procurava encrenca. Quantos machucados, ossos quebrados e dentes moles dos tombos! Ninguém denunciava ninguém... Eram só "acidentes" de moleques: na verdade nunca encontrávamos um culpado.
Você lembra destes incidentes: janelas quebradas, jardins destruídos, as bolas que caíam no terreno do vizinho...???
Existiam as brigas e, às vezes, muitos pontos roxos... E mesmo que nos machucássemos e, tantas vezes, chorássemos, passava rápido; na maioria das vezes, nem mesmo nossos pais vinham a descobrir... A gente comia muito doce, pão com muita manteiga... Mas ninguém era obeso... No máximo, um gordinho saudável... Nem se falava em colesterol... A gente dividia uma garrafa de suco, refrigerante ou até uma cerveja escondida, em três ou quatro moleques, e ninguém morreu por causa de vermes! Não existia o Playstation, nem o Nintendo... no máximo um Atari ou Master System. Não tinha TV à cabo, nem DVD, nem Internet... Tínhamos, simplesmente, amigos!
A gente andava de bicicleta ou à pé. Íamos à casa dos amigos, tocávamos a campainha, entrávamos e conversávamos... Sozinhos, num mundo frio e cruel... Sem nenhum controle! Como sobrevivemos? Inventávamos jogos com pedras, feijões ou cartas... Brincávamos com pequenos monstros: lesmas, caramujos, e outros animaizinhos, mesmo se nossos pais nos dissessem para não fazer isso! Os nossos estômagos nunca se encheram de bichos estranhos!
No máximo, tomamos algum tipo de xarope contra vermes e outros monstros destruidores... aquele cara com um peixe nas costas...(um tal de óleo de
rícino). Alguns estudantes não eram tão inteligentes quanto os outros, e tiveram que refazer a segunda série. Que horror! Não se mudavam as notas e
ninguém passava de ano, mesmo não passando. As professoras eram insuportáveis! Não davam moleza... Os maiores problemas na escola eram:
chegar atrasado, mastigar chicletes na classe ou mandar bilhetinhos falando mau da professora, correr demais no recreio ou matar aula só pra ficar jogando bola no campinho... Ninguém se escondia atrás do outro... Os nossos pais eram sempre do lado da lei quando transgredíamos a regras! Se nos comportávamos mal, nossos pais nos colocavam de castigo e, incrivelmente, nenhum deles foi preso por isso! Sabíamos que quando os pais diziam "NÃO", era "NÃO".
A gente ganhava brinquedos no Natal ou no aniversário, não todas as vezes que ia ao supermercado... Nossos pais nos davam presentes por amor, nunca por culpa... Por incrível que pareça, nossas vidas não se arruinaram porque não ganhamos tudo o que gostaríamos, que queríamos... Esta geração produziu muitos inventores, artistas, amantes do risco e ótimos "solucionadores" de problemas... Nos últimos 50 anos, houve uma desmedida explosão de inovações, tendências... Tínhamos liberdade, sucessos, algumas vezes problemas e desilusões, mas tínhamos muita responsabilidade... E não
é que aprendemos a resolver tudo!!! ...E sozinhos... Se você é um destes sobreviventes... PARABÉNS!!!
VOCÊ CURTIU OS ANOS MAIS FELIZES DA SUA VIDA..."

Pensando, bem, tomando de empréstimo o texto do Verísssimo e compartilhando com vocês, talvez nós, hoje, não precisemos resolver tudo tão sós, até porque os nossos desafios parecem ser cada vez mais coletivos. Precisamos mais de outro, de outra, ou nos plurais de outros e outras que nos acompanham, enfrentam, discordam. Mesmo que precisando de tecnologias educacionais informatizadas... Continuo sendo "idealista", sonhadora, querendo coisas diferentes e menos saudosistas. Antevendo o que se mostra possível, e o impossível também! Se conseguiram ler até aqui... Parabéns!!! Você vive os anos mais felizes da sua vida... ou não!

Carmen






1.6.04
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Compartilho com o Rafael a admiração por Michael Moore. Ainda não assisti ao filme, mas já li sobre...também estou empolgada para o dia 8. O cara é gênio...
Conheci sua crítica à hegemonia americana a alguns anos, pela Tecsat (no interior se a gente não quer assistir as notícias pelos olhos e boca do Lasier Martins, só com alguma tecnologia). Num de seus programas, o cara teve a brilhante idéia de alugar um posto de gasolina que vendia a dita por 60% do valor normal. Quando as pessoas chegavam para abastecer, o frentista -o próprio Michael Moore, explicava que era uma promoção e toda a arrecadação iria para as vítimas do embargo americano ao Iraque (crianças sem remédios e sem alimentos). Ele inclusive mostrava fotos. A primeira reação das pessoas era xingar e ir embora, movidos pelo nacionalismo. Todas porém, sem excessão, retornavam e enchiam o tanque, quando não levavam em galões para o outro dia. Não que estivessem sensibilizadas pela causa, de jeito nenhum. Mas o espírito do americanismo falava mais alto - o lucro a qualquer preço. A velha hipocrisia dos capitalistas: mandam às favas seus princípios para obter algum lucro. Coloco aqui um trecho do ótimo Stupid White Men - uma nação de idiotas, do Michael Moore, que nos traz uma definição das conseqüências do Americanismo, numa abordagem gramsciniana bem atual:
"Liberdade de escolha é uma coisa do passado. Fomos reduzidos a seis empresas de comunicação, seis empresas de transporte aéreo, duas e meia montadoras de carros e um conglomerado de rádio. Tudo que jamais precisaremos pode ser encontrado no WalMart. Podemos escolher entre dois partidos políticos que parecem iguais, votam da mesma forma e recebem fundos exatamente dos mesmos doadores ricos. Podemos escolher vestir roupas indefinidas em tom pastel e nos mantermos calados, ou podemos escolher usar uma camiseta com o Marilyn Manson e sermos expulsos da escola. Britney ou Christina, Warner Bros ou UPN, Flórida ou Texas - não existem diferenças, gente; é tudo igual, é tudo igual, é tudo igual..."(Michael Moore, 2001).
Até terça, Rita